sexta-feira, 26 de março de 2010

Alice, é para crianças ou adultos?




Já ouviu falar nessa categoria (do título)? Tim Burton, com certeza, é um de seus precursores. São filmes de atmosfera sombria, cenários soturnos e capazes de gerar grande tensão psicológica até mesmo em adultos – nas crianças, então, nem se fala. Desde O Estranho Mundo de Jack (1993), o primeiro longa de animação do diretor, até a chegada de Alice no País das Maravilhas,   com pré-estreia no dia 21, Tim Burtonatinge espectadores de uma maneira lúdica muito expressiva: um horror bonito, fofo e infantilizado.

Alice terror_pronta
Alice é assim. Depois de assistir ao filme, a dúvida que fica é: trata-se de uma obra para crianças ou para adultos? Coraline e o Mundo Secreto (2009), de Neil Gaiman, desperta a mesma pergunta. A história da menina que entra por uma portinha e se depara com um mundo escuro, onde é sempre noite e todas as pessoas têm olhos de botões, deixa qualquer adulto (bem, nem todos) com calafrios. Vá por outro lado, fora das animações. Pense na cena no cavalo se afundando em areia movediça em A História Sem Fim (1984). Em uma rápida visita aos vídeos da cena no Youtube, você vai ver que não é o único que se debulha em lágrimas até hoje ao lembrar do terrível choro de Bastian ao perder seu melhor amigo. E olha que o filme é para crianças.
      
Quando um diretor faz terror infantil, gênero que agrada aos adultos, é comum ouvir as pessoas dizerem que “esse não é um filme infantil”. Grande parte dessas obras, porém, são baseadas em livros de fantasia direcionados especificamente para crianças – caso de todos os citados acima. O que preocupa é se a exposição a esse tipo de ansiedade pode gerar algum tipo de trauma à criança.
Coraline_pronta

              “Sim, existe essa possibilidade. Se a criança não digere o estresse gerado por filmes agressivos, tristes ou assustadores, ela pode ter reações comportamentais a isso, como dormir mal, ter queda de rendimento escolar ou irritabilidade”, explica Denise Pará Diniz, psicóloga coordenadora do Centro de Gerenciamento de Estresse e Qualidade de Vida da Unifesp. O garoto pode até assistir ao filme sozinho ou com amigos, mas, depois, é importante que a família pergunte o que ele entendeu da trama e o que está sentindo. “A criança precisa perceber o que ali é parecido com o real e o que é uma simples fantasia. Permitir que ela expresse o que sente por conversas ou desenho é uma boa dica”, diz Denise.


Faça o teste e descubra que personagem é você http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/testes/alice.shtml




        

É claro que esse tipo de filme não é exatamente desaconselhável aos pequenos – talvez as produtoras já teriam parado de investir neles e a Classificação Indicativa os boicotaria. O lado bom é que colocam em pauta assuntos que teriam uma abordagem direta mais difícil entre pais e filhos, como violência ou temas mais abstratos – representações reais e irreais deles mesmos e dos outros, por exemplo.
Por fim, gaste 5 minutos para assistir a este curta de animação da Pixar, Alma, criado pelo espanhol Rodrigo Blaas em 2009 e vencedor de vários prêmios internacionais. Ele usa o terror infantil para falar de um tema extremamente complexo: a autoimagem e autoidentificação da criança. Uma forma bastante enigmática de captar a concentração de qualquer pessoa, seja ela pequena ou grande.



Fonte:http://blogs.estadao.com.br/cinema/2010/03/26/terror-infantil/




  


      

    O Filme Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton, só estreia no dia 21 mas, desde o ano passado, a tresloucada viagem da menina loira que cai em um buraco sem fim, quando corre numa campina inglesa atrás de um coelho branco de casaca e relógio de bolso, vem inspirando lançamento de livros, além de montagem de peças e exposições. Todos aproveitando o foco na fábula cinematográfica. É a "alicemania".   Veja também: mais imagensGaleria de imagens da 'Alicemania'
O detalhe é que não se trata de oportunismo - as obras que chegam às prateleiras trazem um apuro editorial, especialmente no tratamento das ilustrações, algumas pequenas obras de arte. É o caso da edição relançada agora pela Cosac Naify. A tradução ficou a cargo do professor da Universidade Harvard Nicolau Sevcenko, que consumiu um ano no trabalho. Nada surpreendente: com uma narrativa temperada de nonsense e neologismos, o texto de Alice impõe o desafio de se dominar os jogos gramaticais, semânticos, contextuais, poéticos, filosóficos, estéticos e éticos das poesias e canções do livro.

Poesia. "É uma espécie de toque-emboque de palavras e imagens que temos de encarar com coragem porque, se a gente vacila, por trás ecoa a voz ameaçadora da Rainha gritando: "Cortem a cabeça dele!"", comenta Sevcenko, no material de divulgação. E, para fazer jus à tradução, a edição conta com ilustrações do artista plástico Luiz Zerbini. Ele criou uma poesia virtual ao construir as imagens com cartas de baralho que, iluminadas por uma luz teatral, conferem beleza e perspectiva à ilustração.
Alice no País das Maravilhas foi escrita em 1862 por Lewis Carroll (pseudônimo do diácono Charles Lutwidge Dodgson), um homem cujo temperamento introspectivo, a timidez excessiva e a gagueira o afastavam dos adultos e das mulheres. Ele nunca se casou e, claramente, preferia a companhia das crianças, especialmente a das meninas. Uma delas, Alice, inspirou sua obra-prima - transportada para um mundo imaginário, ela encontra o Chapeleiro Maluco, a Rainha, o Gato Que Ri, a Lagarta Que Fuma Narguilé. Mais que o contato com esses personagens, a história conta um rito de passagem, de uma menina se transformando em mulher. E, por trás do habilidoso jogo de palavras, Carroll contextualiza o período vitoriano da época, marcado por um conturbado sistema de poder.
Acessível. A crítica se observa também nas ilustrações. No duplo lançamento (Alice no País das Maravilhas e Através do Espelho), da editora Salamandra, a Rainha de Copas tem sua maldade ressaltada pelo traço da ilustradora inglesa Helen Oxenbury (ao lado). Segundo ela, sua intenção era tornar o mais acessível possível às crianças os meandros da linguagem de Carroll.
A mesma inspiração guiou Tim Burton em sua versão cinematográfica, cujo Guia Visual foi lançado pela editora Saraiva por meio do selo Caramelo. A edição nacional traz menos exemplos que o original inglês, repleto de detalhes sobre a produção. Mas é possível perceber como a visão sombria do cineasta transformou os personagens em seres repletos de distorções bizarras. Segundo Burton, o que o fascinou na obra é justamente a falta de lógica, o que permite um diálogo constante com o subconsciente.
Tal abertura também inspira a montagem Alice Através do Espelho, que estreia dia 22 no Sesi da Avenida Paulista. Por intermédio de diferentes linguagens (vídeo, texto e câmeras ao vivo), o Núcleo Experimental do Sesi, sob a direção de Rubens Velloso, convida o público a atravessar o espelho, em busca da atual identidade de Alice.
E essa pluralidade de ideias é o ponto de partida do evento Um Dia Alice 2010, promovido pela Sociedade Lewis Carroll do Brasil e que ocorre hoje, às 16 horas, no Centro Britânico Brasileiro. Em meio a uma intensa programação, o escritor Wilson Bueno vai apresentar conexões entre o nonsense de Carroll e as adivinhas do sertão nordestino.

Fonte: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100411/not_imp536660,0.php




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